24 março 2013

''Betting Her''





Capítulo 5

Créditos : Heloísa Bernardelli

"She's perfect, so flawless, I'm not impressed" (Comfortable - John Mayer) 

Acordei ridiculamente animado, de alguma forma eu queria vê-la, e ao mesmo tempo não queria que fosse na escola. Eu ainda estava confuso sobre aquela sensação, e alguns minutos embaixo da água não mudaram nada. Eu não sabia se o problema era ser visto com ela, ver todos eles. Os boatos eram rápidos, maldosos e chatos, eu nos queria longe disso, eu nos queria no meu carro, comendo torta de maçã com sorvete. Ninguém riria da nossa boca suja... Ninguém questionaria o porquê de estarmos juntos, e isso nos faria ficar longe da resposta, a aposta. 

- Bom dia. - Eu disse, não tão animado como quando acordei. 
- ARTHUR, eu vou te avisar uma última vez, pare-de-usar-meu-desodorante! - Minha irmã gritou e eu ergui meu braço, inalando um pouco. 
- Eu não estou usando seu desdorante. - Dei de ombros. 
- Gay. - Ela disse, rolando os olhos. 
- Idiota. - Eu retruquei, sentando-me e pegando uma rosquinha. 
- Imbecil. 
- Vadia... 
- Chega! - Minha mãe gritou e eu joguei um pedaço de rosca em minha irmã, que me jogou um pedaço de pão e foi suficiente para começarmos a rir feito idiotas. 

Peguei minha mochila e comi o resto da rosquinha, então me levantei e terminei de comer antes de sair andando. Despedi-me de Dah, que estava na cozinha, e corri para o meu carro, gritando que já estava saindo. Cheguei na escola e, antes de sair do carro, fiquei um tempo parado, olhando o pátio cheio de gente. Procurei-a com os olhos, se eu a beijasse dentro do carro não precisaria beijá-la fora, e isso já fazia diminuir as possibilidades de ser zoado até a morte. Bom, parece que eu teria de correr esse risco. 
Desci do carro e ativei o alarme, ajeitei a mochila no ombro e coloquei as chaves do carro no bolso. Atravessei a secretaria e o refeitório, os caras estavam no mesmo lugar de sempre e foi onde eu me sentei. 

- E aí, Thur! - Mika me cumprimentou e eu apenas sorri. 
- Que cara é essa? - Chay contraiu o cenho, rindo. 
- Já dei um passo. - Eu disse, ajeitando a mochila sobre a mesa. 
- Que passo? - Peu perguntou curioso. 
- A gente já se beijou. - Eu disse sorrindo. 
- Nossa, que enorme passo! - Ele disse com desdém, eu não considerava aquilo pouco, não quando estávamos juntos, tinha sido um grande avanço, pelo menos entre nós dois. 
- Eu acho que sim. - Disse sincero e Chay rolou os olhos. 
- Cuidado para não se apaixonar, hein, Thur. - Ele me zoou, colocando as mãos sobre o peito e piscando rapidamente.
- Certeza. - Ironizei e deitei o rosto sobre a mochila, olhando quem entrava e saia do refeitório. 
- Sua namoradinha. - Peu me zoou assim que Lua passou pela porta do refeitório, nada diferente do que eu já estava acostumado a ver, mas desta vez de alguma forma ela fez meu corpo formigar de ansiedade. 

Ela me olhou e estacionou no lugar, olhou em torno de si e para baixo, apertou a alça da mochila e começou a fazer o caminho de volta. Levantei-me sem dar ouvidos ao que os caras diziam, caminhei rápido até ela e lhe segurei o antebraço com cuidado, ela se virou para mim. 

- Hey, bom dia. - Eu disse animado, ela ergueu o rosto na minha direção e sorriu tímida. 
- Bom dia. - Disse com a voz baixa, suave. 
- Dormiu bem? - Perguntei, descendo a mão até a sua, segurando-a cuidadosamente. 
- Sim, e você? - Respondeu simplesmente. 
- Também. - Assenti e olhei para trás, Mika fazia sinais com as mãos com significado de beijos, eu ri baixo e me virei para ela. - Vou pegar minha mochila, me espera? 
- Sim. - Sorriu. Soltei sua mão e corri até a mesa para pegar meu material. 
- A gente quer ver. - Chay disse prontamente e eu ri. 
- Ver o quê?! - Fingi surpresa. 
- Um beijo, para acreditarmos que vocês realmente se beijaram. 
- Hum, ok. - Dei de ombros e joguei a mochila nas costas. 

Lua estava parada em seu lugar e, conforme eu me aproximava, eu ouvia os garotos chamando-a de boa samaritana, beata e coisas do tipo. Rolei os olhos e não senti vontade de rir, como faria alguns dias antes. Senti que, de alguma forma, estavam todos nos olhando, então passei o braço por sua cintura e me inclinei, selando meus lábios nos dela, até ela ceder um breve espaço para um beijo. Ouvi uma gritaria confusa e ignorei logo quando sua língua tocou a minha. Não havia nada além de nós dois, todas as vozes foram abafadas, uma pena que durou pouco tempo e logo estávamos saindo dali com os murmúrios daquela gente sem o que fazer. 
Peguei sua mochila para me mostrar um pouco cavalheiro e carreguei até uma das mesas, ela se sentou e eu o fiz ao seu lado, abraçando-a pelos ombros. 

- Tudo bem? - Perguntei, vendo-a encolhida em sua cadeira. 
- Não faça mais isso. - Pediu sussurrando. 
- Isso o quê? - Contrai o cenho e me inclinei para ela. 
- Não me beije mais em público assim. - Mordeu o lábio e eu assenti devagar, sem entender muito bem. 
- Está bem, desculpe-me. - Ela assentiu e se recostou a mim. 
- Pega copo de suco para mim, por favor? - Pediu, virando o rosto para mim. 
- Pego. - Sorri e me levantei, caminhando até a máquina de suco, preenchi o copo e fui voltando devagar. 

Jessica me acenou e eu balancei a cabeça, cumprimentando-a. A turma de garotos do cricket fazia sinais idiotas para mim, zombando Lua, que me esperava em silêncio, encolhida na cadeira. Suspirei mais uma vez, aquilo não seria fácil, e de alguma forma eu sentia que para ela muito menos. 

- CUIDADO, Aguiar! 

James gritou irônico, empurrando-me com força pelos ombros de forma que o copo de chocolate virasse todo sobre Lua. Eu não acreditei que um dia isso fosse capaz de acontecer realmente, tinha de ser muito bem calculado, mas tinha dado perfeitamente certo. A camisa branca de Lua estava completamente molhada e começava a ganhar transparência, ela tinha os olhos arregalados e as mãos na altura dos ombros, onde havia parado em meio ao susto. 

- Oh, God, desculpa! - Eu pedi, inclinando-me para ela. Lua olhou de seu busto para mim com os olhos mareados e eu senti minha garganta trancar. Virei-me imediatamente para James, que ria com as mãos no joelho, e me aproximei firmemente. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa ou que alguém pudesse me impedir, eu aproveitei sua posição e dei um murro em sua barriga, ele gemeu e me olhou assustado, foi necessário apenas um movimento seu para que eu o empurrasse para longe com um soco no rosto. - Idiota! - Eu gritei, sentindo duas mãos me segurando por debaixo dos braços. 
- Calma, cara, calma. - Micael me pedia enquanto Peu parava entre nós dois com os braços abertos. 
- O que está acontecendo aqui? - A inspetora perguntou, aproximando-se, e eu me soltei das mãos de Micael. 
- Vem. - Estiquei a mão para Lua enquanto com a outra eu pegava nossas mochilas. 
- Uuuuuuuuh, o Aguiar gosta de ursinhos? - Eles gritavam, referindo-se ao sutiã de Lua , que ficou visível através do linho molhado. 
- PERGUNTE PARA A SUA MÃE DO QUE EU GOSTO! - Eu gritei irritado enquanto abraçava Lua próximo de mim. 

Antes de chegarmos em frente ao colégio, ainda no corredor da secretaria, parei um pouco e retirei meu casaco enquanto Lua me esperava encolhida, abraçando o próprio corpo. Ela me olhou com os olhos vermelhos, algumas lágrimas trilhavam caminho até seu queixo e eu sentia vontade de voltar lá e quebrar todos eles, mas me controlei, pois senti que ela precisava de mim naquele momento. 
Coloquei meu casaco em seu corpo e peguei nossas mochilas novamente, carregando-a para fora do colégio. Expliquei em poucas palavras à coordenadora e a levei até meu carro. Ficamos rodando um tempo pela cidade enquanto ela se acalmava, eu já não sabia o que fazer, então, enquanto esperávamos o frentista encher meu tanque, eu me voltei para ela. 

- Desculpa, isso tudo é culpa minha. - Eu disse sincero e ela negou com a cabeça, enxugando o rosto. 
- Eles são uns idiotas, eles sempre fazem isso. - Disse, apertando meu blazer contra seu corpo. 
- Não se importe com eles. - Eu disse, esticando a mão e fazendo a curva abaixo de seu olho com o polegar, enxugando a lágrima que escapava por ali. - Eles vão nos esquecer uma hora ou outra. - Eu disse com os ombros encolhidos, ela assentiu fraco e se comprimiu no assento. - Quer ir para casa? 
- E-eu... não posso... não posso, meu pai me mataria! - Ela disse, virando-se para mim. Eu umedeci os lábios e coloquei sua franja atrás da orelha. 
- Quer ir para minha casa, então? - Ela ficou me olhando. 
- Seus pais não vão ficar bravos? Você está matando aula! - Ela comentou incrédula e eu sorri. 
- Não, e além do mais eles não estão em casa agora. - Ela mordeu o lábio e tragou a saliva. - Só minha irmã e algumas empregadas. - Ela assentiu devagar. 
- Tudo bem. 

Paguei pelo diesel e segui para minha casa. Lua estava mais tranquila e eu podia notar isso quando vez ou outra eu a fazia sorrir de alguma bobeira dita. Quando chegamos, eu coloquei o carro na garagem e por isso entramos pela porta da cozinha, nos fundos de casa. 

- Hey, Dah. - Chamei, puxando Lua pela mão, ela estava quase sumindo dentro do meu blazer. 
- Olá... Oi. - Ela disse surpresa ao ver que eu estava acompanhado. 
- Oi. - Ela disse tímida. 
- Aconteceu alguma coisa? O que fazem em casa? - Perguntou, soltando o guardanapo sobre a pia. 
- Molharam a roupa da Lua, houve uns problemas e eu achei melhor virmos para casa. - Abracei Lua, que encarava o chão. 
- Hum, e está tudo bem agora? - Ela perguntou cuidadosa, vendo-me fazer sinais para que ela parasse de questionar. 
- Sim, sem problemas, não é? - Olhei para Lua, que assentiu devagar. - Dah, você pode preparar um milk shake de chocolate para nós dois? Vamos subir para a sala de TV. - Pisquei para minha babá, ela sorriu e piscou de volta. 
- Faço sim, querido, já levo. 

Eu conduzi Lua pela sala de jantar e nós seguimos para o hall, subimos lentamente as escadas e caminhamos pelo corredor até a porta da sala de TV. Deixei nossas mochilas no canto enquanto ela se sentava timidamente no sofá. Apoiei as mãos no encosto e a encarei. 

- Quer uma blusa emprestada? - Perguntei sorrindo. 
- Er... Tudo bem. - Concordou e eu sorri. 
- Vou pedir à minha irmã, só um minuto. 

Caminhei até o quarto de Alexa, ela havia voltado a dormir. Ela sempre fazia isso. Abri seu guarda-roupa e peguei a blusa mais decente que ela tinha, uma baby look preta simples, sem nada escrito ou estampado. Quando cheguei na sala, vi Dah deixando os dois copos com milk shake sobre a mesa de centro. 

- Lu, acho que essa vai servir. - Mostrei a camisetinha e ela assentiu, levantando-se devagar. 
- Onde posso me vestir? - Perguntou delicada. 
- Dah, mostre a ela onde é o banheiro. - Dah assentiu e a levou consigo. 

Tirei meu tênis e deixei no canto, junto com o blazer que ela havia me entregado. Sentei-me no sofá, praticamente afundando no estofado, e busquei o controle da TV. Enquanto trocava constantemente os canais e esperava por Lua, eu pensava num bom filme para podermos ver, já que naquele horário era basicamente desenho, jornal e programa de esporte. Não que as três opções fossem péssimas, na verdade, a primeira e a última me deixavam formigando de alegria, mas não acho que fosse atraí-la. Levantei-me e caminhei até a estante que tinha ao lado da TV, abaixei e comecei a olhar os DVD's, à procura de algo bom o suficiente. Que tipo de filme mulheres costumam assistir? A Filha do Presidente, por que eu tinha esse filme? Ele é uma merda, embora a Kate Holmes seja muito gostosinha, ela não merece uma hora de atenção... Exceto se for na cama do papai aqui. Doce Novembro, não, já assisti com a minha mãe e minha irmã, as duas choraram, Lua iria chorar e eu não saberia o que fazer. A Bela e a Fera, que droga é essa? Vou esconder antes que Lua veja, sabe como é, garotas costumam gostar da Disney, até o Micael gosta. Lolita, uuuh, a ninfeta gostosinha, esse é um fi... 

- Thur ? - Ouvi Lua me chamar e virei o rosto para ela. Traguei a saliva e pisquei algumas vezes. - Acho que ficou... bom, não ficou? - Olhou para si mesma e depois para mim. Bom? Aquela blusa era para ser dela. Embora sua saia estivesse apenas um pouco abaixo do umbigo, a blusa ainda deixava uma parte de sua pele exposta, uma linha de pele, uma única fresta que fez meus dedos pressionarem a capa do filme em minha mão. - Thuur? Ficou tão ruim assim? - Perguntou constrangida, eu sorri como um idiota faria e neguei com a cabeça. 
- Ficou legal. - Eu disse e ela sorriu fraco, aproximando-se com calma de mim. Estiquei minha mão e ela se ajoelhou ao meu lado, sobre o pano da saia. 
Lolita? - Tomou o filme das minhas mãos e olhou a capa. - Já me falaram sobre esse filme. - Ok, agora ela vai me achar um tarado idiota e vai sair correndo. - É legal? - Voltou-se para mim, eu abri e fechei a boca algumas vezes, sem ter certeza se devia ou não responder àquilo. 
- Bom, não sei direito, faz muito tempo que eu... que eu vi, e... eu não me lembro muito bem. 
- Podemos ver se... se você quiser. - Ela desviou os olhos para o filme e eu arregalei os meus, e agora? Será que ela sabia o conteúdo daquilo que ela tinha em mãos? Não que fosse um pornô em si, mas uma cena ou outra eram bem... excitantes. 
- Eu não sei, você quer? Você... tem certeza? - Eu a olhei e ela parecia curiosa. 
- É, nunca me deixaram ver em casa, seus pais te deixam ver? - Olhou-me e eu sorri involuntariamente. 
- Acho que não se importam com isso... De qualquer forma, está os vendo em alguma parte? - Nós sorrimos sapecas e ela me entregou o filme, levantando-se e correndo para o sofá como se estivéssemos mesmo fazendo algum tipo de travessura. 

Assim que coloquei o filme, eu caminhei até a porta da sala, encostando-a. Perguntei se Lua se importava se eu fechasse as cortinas, ela negou, encolhendo as pernas inteiras sob a saia. Eu fechei as cortinas, por ser de cor nude não escureceu a sala de um todo, só vetou em parte os raios de sol. Sentei-me ao seu lado e peguei o controle do DVD. O início do filme era um pouco sombrio, um cara contando sobre sua história, não me parecia muito interessante e eu nem mesmo me lembrava do começo, então me estiquei e peguei nossas taças, entreguei uma a ela, que me sorriu agradecida e se recostou ao sofá, olhando para a TV novamente. Sorri e suguei um pouco do meu leite, virando meus olhos para a TV, quando notei que não teria a atenção dela. 
Para quem nunca viu o filme, ele conta basicamente a história de um velho tarado que casa com uma mulher e se apaixona pela filha dela, a Lolita. A mulher morre, ele e Lolita, literalmente, se envolvem e fim. Na verdade, o fim não é esse, mas se você nunca assistiu seria inconveniente eu contar o fim, odeio que façam comigo e não vou fazer isso com ninguém. 
Olhei de esguelha para Lua enquanto apoiava meus pés na mesa de centro, ela do mesmo jeito, com as pernas em posição de índio cobertas pela saia, recostada ao sofá, sem mater uma postura totalmente ereta, com os olhos fixos no filme e o canudo preso entre os lábios entreabertos, totalmente absorta. Sorri e mordi meu lábio, de alguma forma ela me pareceu bem atraente. Traguei a saliva e me voltei para o filme, tentando absorver algo das cenas que eu via, mas eu não queria prestar atenção, então isso ficava um pouco complicado. 
As cenas se passavam e Lua exclamava alguns rápidos sustos quando algo inesperado acontecia, eu apenas sorria. Meus olhos vagavam por seu rosto, estava sem expressão alguma, ela estava devota ao filme, e eu a ela. O canudo estava próximo de seus lábios, quase entre eles, vez ou outra ela o envolvia com a língua e sugava um pouco de sua bebida, depois soltava, com as bochechas cheias de leite, engolia aos poucos e limpava os lábios com a língua, contornando-os com sua língua que nunca me pareceu tão convidativa. De repente, suas bochechas começaram a corar, e ficavam cada vez mais vermelhas, virei-me para a TV e notei que a cena era desagradável, pelo menos para ela. Não era nada demais, era a primeira transa das personagens, mas sequer aparecia alguma coisa concreta, ninguém nu nem nada disso, mas eu podia ouvir a respiração descompassada da garota ao meu lado. Eu sorri e virei meu rosto em sua direção. Seus seios subiam e desciam rapidamente, ela estava vermelha, realmente muito vermelha, parecia até sufocada com alguma coisa. Quando notou meus olhos, ela virou o rosto na minha direção e pareceu um pouco assustada quando seus olhos se encontraram com os meus, eu lhe sorri e tentei passar alguma confortabilidade, ela sorriu sem graça e mordeu o lábio. Umedeci meus lábios e me aproximei um pouco, ela não hesitou, apenas forçou os dedos na taça de vidro, eu sorri e peguei a mesma de suas mãos, esticando-me para colocá-la na mesa de centro ao lado da minha. Quando me voltei para ela, pude sentir suas mãos se instalarem em minha nuca, delicadas, receosas. Ergui meu rosto um pouco mais, encarando seus lábios. Antes que pudéssemos pensar em qualquer coisa, eu a beijei. Sua língua pareceu um pouco tímida de início, mas eu a instiguei pouco a pouco com a minha, até que as duas estivessem envolvidas em movimentos lentos, namorando entre si. Eu sentia suas mãos tateando meu cabelo, seus dedos leigos se enroscavam entre os fios. Minhas mãos estavam apoiadas no sofá, mas ao notar que ela não se importaria coloquei uma delas em torno de seus ombros, apoiando o antebraço no encosto do sofá, e levei a outra em sua cintura. Deus do céu, sua cintura era fina, fina como eu não imaginei que fosse, e só agora, tateando seus ossos salientes, eu pude perceber isso. 
Investi um pouco os lábios nos seus e senti ela se encolher minimamente, arrastei a mão de sua cintura para suas costas, tentando atraí-la para mais perto, mas ela jogava o peso do corpo para trás, não me deixando fazer isso. Eu podia sentir quão tensa ela estava, e teria que resolver isso. Com a mão que estava atrás de seus ombros, eu acariciei seus cabelos, enroscando-os com cuidado entre os fios, massageando sua cabeça e nuca com as pontas dos dedos até senti-la um pouco mais fraca. Ela cedeu ao meu braço e eu a trouxe um pouco mais cerca de mim. Nossos joelhos se encostaram e eu voltei a mão para sua cintura, tentando fazê-la se virar de frente para mim, de alguma forma eu sabia que não ia ser tão fácil assim. Ela se contraiu e quebrou o beijo, estávamos ofegantes, seus olhos arregalados fixos nos meus, com os quais eu tentava acalmá-la. 

- Meu estômago. - Ela sussurrou e eu arqueei as sobrancelhas, olhando seus olhos assustados. - Está revirando. - Falou mais baixo, olhando para o lado, como se estivesse me confidenciando um segredo, eu sorri. 
- Algum problema? - Eu perguntei baixo, respeitando a atmosfera que ela havia criado. 
- Não... sei. - Mordeu o lábio e me olhou. - Nunca acontece. - Murmurou e colocou a mão sobre o estômago, ela estava nervosa, visivelmente tensa. 
- Costuma acontecer quando... eu gosto de uma garota. - Eu disse encarando-a. - E eu também estou assim agora. - Eu murmurei, desviando meus olhos de seus para sua boca, ela corou e sorriu de lado. 
- Isso quer dizer que eu gosto de você? - Ela sussurrou sem me olhar. 
- Você gosta? - Eu perguntei, acariciando sua bochecha com o polegar. 
- Eu acho que sim. - Disse quase inaudivelmente, eu lhe sorri e virei seu rosto em minha direção para em seguida beijá-la, nova e carinhosamente. 

Eu não sabia por que estava agindo daquela maneira, eu queria me enganar dizendo que estava fazendo aquilo só para que ela cedesse de uma vez, mas bem lá no fundo eu sabia que estava sendo espontâneo, desde minhas palavras até minhas atitudes. Eu não menti quando citei sobre meu estômago, apenas quando afirmei que isso acontecia quando eu gostava de uma garota, afinal, eu nunca tinha me sentido assim antes, talvez fosse a situação, ou talvez eu não quisesse admitir, mas ter mantido aquela aposta era uma desculpa para eu estar ali, com ela em meus braços. Lua desdobrou as pernas e as deixou repousar no estofado. Sem descolar os lábios dos seus, eu me arrastei para um pouco mais perto e acariciei sua cintura com o polegar, movendo-o em círculos lentos pelo osso saliente de seu quadril, levantando brevemente a blusa naquele espaço. Ela puxou um pouco mais meu cabelo e eu pude sentir seus poros eriçados sob meus dedos, o que demonstrava seu arrepio, deixando-me saber que ela estava gostando. Deixei minha língua contornar seus lábios para depois voltar a beijá-la. Eu podia senti-la ofegante, e suas mãos já não se contentavam em massagear meus cabelos, ela agarrava mechas grandes e as puxava, creio eu que era involuntário, mas me estimulava bastante. Eu quebrei o beijo e a encarei por alguns segundos. Ela não abriu os olhos, talvez estivesse envergonhada. Coloquei seu cabelo para o lado e umedeci os lábios antes de dar o primeiro beijo em seu pescoço. Ouvi-a soluçar assustada, pude ver sua pele extremamente arrepiada e sorri diante da reação que eu causei nela. Ela não fazia ideia do quanto aquilo estava me deixando louco. Mesmo com seu pescoço ligeiramente encolhido, eu ainda conseguia distribuir alguns beijos úmidos por ali. Ela estava com as mãos nos meus ombros, agarrada à minha camisa. Suas pernas inquietas esbarravam nas minhas, eu já estava quase me virando todo sobre ela, mas talvez se eu o fizesse ela fosse me barrar. Afagando seus cabelos, eu ainda beijava-lhe o mesmo pedaço de pele no pescoço, sem espaço para excursionar por ali. Passeei com os dedos por suas costas, ousando sentir sua pele abaixo da camiseta fina. Ela se contorceu um pouco e eu pude ouvir um suspiro intranquilo escapar por seus lábios logo antes de ela deitar o pescoço para trás e empurrar o corpo para frente, de encontro ao meu. Com livre acesso, eu deslizei os lábios entreabertos por sua garganta, deixei uma mão pousada no centro de suas costas, suspendendo seu corpo que já estava quase deitado no sofá. Suas pernas estavam largadas sobre uma das minhas, suas panturrilhas caídas entre as minhas. Em uma posição favorável, eu estiquei minha mão e toquei seu joelho, não faço ideia de onde estava a saia que deveria estar cobrindo-o, mas comemorei internamente o fato de não estar ali. Desenhei mil coisas abstratas com a língua em sua garganta, às vezes eu a ouvia gemer baixinho, quase inaudivelmente. Sua respiração totalmente falhada denunciava o quão vulnerável ela estava diante das minhas carícias, eu adorava isso nela. Passei os dedos por dentro de sua meia, acariciando a parte de trás de sua panturrilha. Ela se encolheu toda e resmungou alguma coisa que eu não consegui entender. Encostei os lábios em sua orelha, contornando-a com a língua vagarosamente. Senti pela primeira vez as unhas de Lua por cima da camisa do uniforme, ela as pressionou com a mesma força com a qual apertou as pernas em meu colo, empurrando o tronco para trás, com a cabeça encostada no sofá. Deus, ela estava adorando, e se eu continuasse certamente ela me permitiria ir além daquilo, mas eu não faço ideia do motivo pelo qual comecei a diminuir o ritmo do que fazia, até parar completamente. Lua se afastou de mim tão rápido que eu nem percebi, logo estava encolhida no sofá com os olhos pregados na TV outra vez, os braços finos e frágeis em torno dos joelhos cobertos novamente pela saia. Eu podia ver a trilha de saliva que eu havia deixado em seu pescoço, mas em sua testa e na raiz de seu cabelo não fui eu quem deixei. Embora também fosse minha culpa, ela estava transpirando. Suas bochechas rosadas e os lábios inchados e avermelhados como eu nunca havia visto, ela estava arfando e eu podia jurar que estava tremendo também. Virei-me devagar para a TV e puxei discretamente uma almofada até meu colo, mantendo as pernas afastadas e tentando pensar em algo que acalmasse meus hormônios e baixasse o volume que tornava minha calça apertada demais. Passei a mão pelo cabelo e descansei o braço atrás da cabeça, sentindo minha respiração voltar a sua ordem aos poucos. 

- O que eu fiz de errado? - Ela perguntou num tom baixo, eu diria que ela estava triste. Virei meu rosto na direção dela e sorri fraco. 
- Nada, não fez nada de errado, por quê? - Eu perguntei, vendo-a apertar os joelhos no corpo. 
- É a segunda vez que... você foge de mim... Eu não quero fazer nada errado com o primeiro garoto que... bom, que eu deixei me beijar assim... - Suspirou e olhou para frente. 
- Hey... - Eu notei quão embolada ela estava e interrompi, levei minha mão até a sua e acariciei com o meu polegar. - Você não fez nada de errado, ok? Só não está certo fazermos isso agora. - Eu disse, tentando fazê-la entender. Ela me olhou e eu pude ver seus olhos mareados. - Lua ! - Exclamei e me acerquei, abraçando-a. 
- Eu não sei o que fazer, desculpe-me. - Ela pediu e eu a apertei, fechando meus olhos. 
- Não chore, por favor. - Implorei, sentindo minha garganta queimar. - Você não precisa saber o que fazer agora, vai saber quando for necessário. - Eu disse, afagando-lhe os cabelos. 

Abri meus olhos e apoiei o queixo em sua cabeça, ela estava encolhida em meus braços e vez ou outra eu a ouvia soluçar. Constatei que ela parou de chorar quando os estremecimentos constantes cessaram e sua respiração retomou à calmaria. Seu rosto estava deitado em meu ombro e eu logo notei que ela estava dormindo. Olhei para a TV, ainda indo e vindo com os dedos em seus cabelos quase soltos do rabo-de-cavalo. 
Busquei o controle com a mão livre e desliguei a TV, com cuidado a tomei nos braços e sua leveza me deixou surpreso. Carreguei-a com cuidado até meu quarto e a coloquei em minha cama, ela não se moveu, apenas deixou os músculos cederem e se aferrou a um sono pesado. Sorri sozinho e me sentei na cama, mesmo sem me sentir no direito de velar por seu sono tranquilo, ali permaneci até ela acordar, olhando cada milímetro de seu corpo desfalecido em minha cama. Sua meia desajeitada por minha culpa deixava sua panturrilha exposta, de pele fina e clara. Ainda assim era um branco diferente do meu, eu não saberia definir a cor de sua pele. Sua saia cobria um dos joelhos, mas subia deliciosamente pelo outro, deixando parte de sua coxa à mostra. Se fosse uma semana atrás eu juraria que Lua tinha pernas horríveis, mas isso seria uma grande mentira. 
Sua cintura era mais fina do que qualquer um podia imaginar, até eu. Os caras jamais acreditariam em mim sem ver aquilo. O por quê de roupas largas eu não faço ideia, mas se a intenção era cobrir seu corpo incrível, ela estava conseguindo muito bem cumprir com a tarefa. 
Com cuidado, saquei meu celular do bolso e alinhei de frente para ela. Focalizando-a, bati uma foto e a salvei em uma pasta qualquer, eu precisava que os garotos a vissem naquele momento, ela estava simplesmente linda. 

- O que está fazendo? - Ela me perguntou sonolenta quando abriu os olhos e me viu sentado na beirada da cama. 
- Esperando você acordar. - Sorri e ela arqueou o tronco, olhando em torno de si. Sentou-se de repente, um pouco constrangida. 
- Desculpe ter dormido. - Eu dei de ombros. 
- Não tem problema nenhum. - Eu disse sincero, vendo-a sorrir. 
- Eu sonhei com você. - Ela disse quase num sussurro, eu sorri involuntariamente. 
- O que você sonhou? - Perguntei com a curiosidade revirando meu estômago, ela negou com a cabeça, baixando os olhos para as próprias mãos. - Ah, come on, conte-me. - Eu pedi sorrindo. 
- Não foi gentil. - Ela disse baixo, observei suas bochechas ruborizarem e ri baixo. 
- Você não quer me contar? - Perguntei no mesmo tom que ela, sentando-se um pouco mais perto. Ela negou com a cabeça e eu segurei seu queixo e ergui um pouco seu rosto, seus olhos ainda não me encaravam, mas seus lábios estavam receptivos, então a beijei. 

Lua parecia atônita, assim que nossas línguas se tocaram eu senti seus braços me envolverem pelos ombros com força, necessidade. Alguém andou tendo sonhos eróticos? Passei as mãos por sua cintura e as fixei em suas costas, podendo trazê-la para mais perto dessa forma. Com os braços ocupados em me segurar, eu tive acesso ao colchão, onde deitei Lua e inclinei-me sobre ela. Não soltei meu peso, nossos corpos apenas se esbarravam vez ou outra conforme eu lhe beijava com intensidade. Eu não sei definitivamente o quê, mas algo nela me fazia ficar dormente, como se eu estivesse alheio a qualquer coisa que pudesse acontecer enquanto estivéssemos nos beijando. 
Senti suas mãos espalmarem delicadamente meu peito, achei que fosse para se livrar de mim, mas quando fiz menção de quebrar o beijo ela não permitiu, investindo os lábios desajeitadamente nos meus. Sentei-me devagar e coloquei as mãos em suas costas. 

- Estávamos sentados? - Perguntei baixo entre o beijo, referindo-me ao sonho, ela assentiu e eu sorri divertido, sem decretar a distância total de nossos lábios. 

Eu recostei na parede e Lua apoiou as mãos cuidadosamente em meus ombros, ajoelhada na cama. Eu ainda olhava seu rosto quando uma das piores dores que eu já tinha sentido em toda minha vida me assolou. Ao tentar passar sua perna para o outro lado do meu corpo, seu joelho esbarrou fortemetemente contra minha ereção. Eu não raciocinei coisa alguma naquele momento, apenas a empurrei para o lado e me deitei encolhido, segurando o que restava do volume por cima da calça. Meus olhos lacrimejavam e eu sentia todo meu ventre e virilha latejando, eu poderia chorar se não tivesse uma garota ao meu lado. 

- Thur? Arthur, tudo bem? - Ela perguntou com as mãos no rosto, piscando rapidamente, o desespero estampado em seu rosto. Eu nada respondi, só gemi e apertei meus olhos. - Thur... Quer que eu... quer que eu chame alguém? - Ela disse se levantando, eu a encarei rápido. 
- Não... Não. - Eu estiquei uma mão em sua direção, ela se acercou e se sentou na beirada da cama, olhando-me assustada. - Já vai passar. - Eu sussurrei sem força. 
- Fui eu? Eu que fiz? O que eu fiz? - Ela perguntava rápido, com a voz trepidante. 
- Foi só um esbarrão, não foi culpa sua. - Eu disse olhando-a, sentando-me devagar na cama. 
- Eu... quer que eu... - Ela apontava para minha virilha e para si mesma, eu senti meu coração disparar, sua culpa era tanta que ela seria capaz de fazer isso? Eu podia me aproveitar disso? 
- Não sei... você... faria? - Eu a olhei e ela se encolheu olhando para baixo. Senti-me um idiota, mas a tentação fazia todo meu corpo pulsar, e não era mais de dor. 

Lua levou a mão no meu rosto e senti seus dedos gélidos e úmidos de suor, ela baixou minhas pálpebras até eu fechar meus olhos completamente, então a ansiedade se tornou maior. Eu não achava justo abrir os olhos, então respeitei seu pedido silencioso e relaxei, esperando seu próximo passo. 
Senti os dedos de Lua superficialmente pela calça, próximo a minha virilha. Traguei a saliva presa em minha garganta e soltei o ar devagar, tentando não assustá-la ou coisa do tipo. Ela estava muito próxima de me tocar, mesmo que não houvesse ereção ali, ela faria surgir. Cerrei meu punho e, quando finalmente seus dedos me alcançaram intimamente, ouvi toques na porta, ela pulou para longe de mim e eu me ergui frustrado. 

- Garotos. - Ouvi Dah chamando e pisquei devagar, tentando manter a calma. 
- Pode entrar, Dah. - Eu disse, sentando-me. 
- Com licença, só vim avisar que o almoço está servido e seus pais já estão lhes esperando. 
- Valeu. - Respondi e me levantei, ainda sentindo algum desconforto entre as pernas. Caminhei até a porta e a afastei um pouco mais, mas, ao notar que não estava sendo acompanhado, parei e me virei para trás. - Você não vem? - Perguntei confuso, ela negou fraco com a cabeça. 
- Não, eu... preciso ir para casa. - Ela disse encolhida, com os olhos saltados. 
- Hey... - Eu me acerquei e agachei na sua frente, apoiando as mãos em seus joelhos cobertos. - Vamos almoçar, depois eu te levo. - Eu sugeri, usando um tom de voz cauteloso. 
- Mas são seus pais! - Ela disse esganiçada, como se fosse um crime ela estar na mesma mesa que meus pais. 
- E o que tem de errado? - Eu perguntei confuso. 
- Não é certo, não vou me sentir bem. - Ela disse e prendeu o lábio entre os dentes. 
- Por favor? - Eu pedi. - Eles são legais, você vai gostar deles. - Eu disse sorrindo. Levantei-me e estiquei a mão até a sua, fazendo-a se levantar. 
- E se eles não me quiserem na mesa? - Perguntou baixo enquanto eu praticamente a arrastava até a sala de TV para buscar seus sapatos. 
- E por que não iriam? - Olhei-a, entregando-lhe seus sapatos para que ela colocasse. 
- Porque eles não me conhecem, e eu não sei me portar. - Ela disse como se fosse óbvio, levantando-se após calçar as sapatilhas. 
- Não te conhecem, mas vão, e eu duvido que não saiba, vem, vamos comer. 

Lua bufou baixinho e eu dei risada, segurando sua mão e descendo as escadas. Assim que entramos pela porta da sala de jantar, eu senti seus dedos finos e gélidos esmagando os meus com força. Meus pais se levantaram devagar, minha irmã me olhava com deboche e eu tentava não rir de toda aquela situação. Só para constar, eu costumo ser bem inconveniente quando se trata de risadas. 

- Filho, apresente-a. - Minha mãe disse sorridente, senti Lua  cerrar ainda mais os dedos nos meus e um riso anasalado escapou, para logo em seguida eu começei a gargalhar. Eles me olhavam confusos e Lua esmagava minha mão, o que me fazia rir ainda mais. 
- Desculpa. - Eu pedi ainda entre risos. - É só que... - Fui interrompido por mais risadas, agora Alexa me acompanhava. 
-Arthur! - Minha mãe me repreendeu e riu um pouco também. 
- Essa é a Lua. - Eu disse respirando fundo. - Lua, meus pais e minha irmã,Lexi. 
- Oi, querida, prazer. - Minha mãe disse, aproximando-se e estendendo a mão para Lua Em seguida, meu pai e, por fim, Lua que apenas lhe sorriu fechado. 
- Vem, vamos nos sentar. - Meu pai disse, oferecendo a cadeira ao meu lado para ela, eu puxei a cadeira e ela se sentou, agradecendo baixo. 
- Você gosta de peixe? O Thur não gosta muito. - Minha mãe dizia enquanto eu me sentava ao lado de Lua. -Thuur, cadê seu tênis, onde já se viu descer de meias para o almoço? - Eu a encarei e nós começamos a rir. - Hoje temos visita, você deveria se comportar. - Lua sorriu, baixando a cabeça, e eu acompanhei seu sorriso. Minha mãe me olhou com aquele jeito maternal e eu rolei os olhos. 

Começamos a comer e eu pude notar que Lua estava um pouco tímida, mas ela conversou mais com minha mãe do que conversava comigo, bem mais, eu diria. Ela se ofereceu para ajudar com a louça e eu deduzi que ela não tinha empregada em casa. 

- Thur, preciso ir. - Avisou-me enquanto eu jogava um pedaço de chocolate na minha irmã, no sofá oposto ao nosso. 
- Por quê? - Eu perguntei, virando o rosto para ela. 
- Eu tenho que ir trabalhar. - Eu contraí o cenho. 
- Você trabalha? - Ela assentiu. - Onde? 
- Em uma creche, no centro. - Ela respondeu, colocando-se na ponta do sofá. 
- Hum, então eu vou te levar. - Eu disse, levantando-se. 

Ela se despediu da Lexi; meus pais já tinham saído para trabalhar. Peguei sua mochila e a coloquei em meu ombro. Conduzi-a até a garagem com a mão em suas costas. O caminho de volta foi bem agradável, estávamos conversando bem mais do que quando saímos da escola, e aquela manhã tinha sido boa, realmente boa. Eu queria dizer isso para alguém, mas para qualquer um dos meus amigos que eu dissesse eu seria massacrado, não acho que eu estivesse pronto para passar por isso. 
Passamos em sua casa e ela saiu de lá com a mesma roupa que ela estava na noite anterior, o macacão curto por cima da meia calça preta e uma camiseta, desta vez verde musgo. Ela disse que ia de ônibus, mas eu insisti em esperá-la e ela aceitou minha carona até a tal creche. 

- Não posso descer, estou de meias. - Eu disse, mostrando meus pés, ela riu baixo e me olhou. 
- Não tem problema, obrigada pela carona. - Ela disse, mordendo o lábio. 
- Vem cá, quero um beijo. - Eu pedi deslavado e ela riu um pouco mais alto. Sua gargalhada preencheu o carro, fazendo meu corpo se arrepiar e um sorriso brotar automaticamente em meus lábios. 

Trocamos um beijo lento, o carinho entre nós dois era palpável, e sim, tanto dela comigo quanto de mim para com ela. Eu não queria deixá-la ir, mas ela realmente precisava, então nos despedimos e eu a deixei sair do carro. 
Ela atravessou a rua rapidamente, segurando uma mochila no ombro. Deduzi que fossem roupas para o ballet ou coisa do tipo. Ela empurrou o portão alto de grades coloridas e logo as crianças desocuparam o parque que tinha logo ali à frente e correram para abraçá-la pelas pernas. Uow, acho que eu tinha que conversar com aqueles baixinhos, talvez eles me entendessem melhor do que qualquer outra pessoa quando eu dissesse que ela é incrível. Eu precisava acabar com aquela aposta! 
Naquela noite, eu simplesmente não dormi, não preguei os olhos nem mesmo um minuto, talvez tenha cochilado pequenos espaços de tempo que só faziam com que eu me sentisse mais cansado. O fato é que a culpa estava pesando minha cabeça, bem mais do que o sono pesava meus olhos. Eu não podia fazer aquilo com ela, que direito tinha eu de estragar com a vida de uma garota como ela? Eu não a merecia, nem que eu rompesse a aposta. Ela não me merecia de forma alguma. Ninguém era bom o suficiente para ela.

Continua...

Adaptação:Larissa Albuquerque                            @LuAr_Eterno_Smp


#ComentemChocolates                            ~Deixem a autora feliz~


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